2023 começa com calor recorde em pleno inverno na Europa
Mesmo durante o inverno e com um La Niña a segurar as temperaturas pelo mundo fora, uma onda de calor causou temperaturas recordes em toda a Europa na passagem de ano.
Enquanto é verão na América do Sul, a Europa e todo o hemisfério norte passam agora pela estação inversa, o inverno. Apesar do frio esperado (geralmente responsável pela famosa neve de Natal), condições anómalas têm trazido temperaturas mais quentes que o normal para o continente europeu.
Acontece que um sistema de baixa pressão localizado no oceano Atlântico Norte, aliado a uma área de alta pressão sobre o mar Mediterrâneo, resultaram num forte fluxo de ar quente vindo de sudoeste. Graças a isto, massas de ar quente do noroeste da África estão a ser transportadas para a região.
Ao passar pelo Atlântico Norte, as massas de ar ainda encontraram temperaturas da superfície do mar mais quentes que o normal (anomalias positivas de 1 a 2 °C), o que impulsionou a situação. O resultado foi um calor recorde em vários países europeus durante a passagem para o Ano Novo.
Temperaturas acima de 20 °C - muito raras para esta época do ano - foram observadas mesmo na Europa Central. Recordes nacionais de temperatura para os meses de dezembro e janeiro foram quebrados em vários países, e centenas de estações meteorológicas registaram as temperaturas mais elevadas já observadas para o período. Consulte alguns dos recordes mais significativos:
Em 31 de dezembro de 2022:
- 19,4 °C em Dresden, na Alemanha (recorde anterior de 17,7 °C em 1961)
- 17,7 °C em Praga, na República Checa (recorde anterior de 17,4 °C em 1961)
Em 01 de janeiro de 2023:
- 25,1 °C em Bilbao, Espanha (recorde anterior de 24,4 °C em 2022)
- 18,6 °C em Besançon, França (recorde anterior de 16,8 °C em 1918)
- 18,9 °C em Varsóvia, na Polónia (recorde anterior de 13,8 °C em 1993)
- 12,6 °C em Lolland, na Dinamarca (recorde anterior de 12,4 °C em 2005)
As temperaturas estão a subir na Europa?
A resposta é sim, o clima está a mudar de maneira bastante notável em toda a Europa. Alguns dos serviços Meteorológicos europeus, incluindo o AEMET (Espanha), Meteo France (França), Deutscher Wetterdienst (Alemanha) e o Met Office (Reino Unido) já tinham anunciado que, de acordo com os seus dados, 2022 foi o ano mais quente de todos os tempos nos seus respetivos países.
Mas o facto é que a frequência e a intensidade das ondas de calor europeias aumentaram consideravelmente nas últimas décadas e, de acordo com o último relatório do IPCC, os extremos de calor vão continuar a aumentar, independentemente de qual seja o cenário de emissões de poluentes.
Apesar da forte descrença por parte da população e da elevada variabilidade presente nos modelos meteorológicos, as tendências de aquecimento observadas (tanto nas temperaturas médias quanto nos extremos europeus) simplesmente não podem ser explicados sem ter em consideração a influência do ser humano.
Há dois meses, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou um relatório que mostrava que as temperaturas europeias subiram significativamente durante o período de 1991 a 2021, cerca de +0,5 °C por década. Trata-se da taxa mais elevada do mundo, mais do que o dobro da média global, o que significa que o aquecimento global pode ser extremamente severo para os Europeus já no curto prazo.