2017 – ano trágico em Portugal devido aos incêndios florestais
Ao terminar o ano de 2017 fica na memória um ano trágico para Portugal devido às graves consequências que os incêndios florestais tiveram este ano. Milhares de hectares de área ardida, pessoas e animais afectados, desalojados, perda de bens e acima de tudo perda de vidas humanas.
No relatório do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (INCF), lê-se que “2017 é o ano mais severo dos últimos 15, com valores semelhantes aos de 2005, até aqui o mais severo”. Esta severidade mede-se pela dificuldade em controlar as chamas. Neste ano as condições severas prolongaram-se para o mês de outubro, ao contrário do que acontece normalmente, em que os valores estabilizam a partir de meados de Setembro.
Ainda segundo o mesmo Relatório, no que se refere à área ardida, o pior ano de sempre registou-se em 2017 (442.418 hectares), seguido de 2003 (425.839 hectares) e de 2005 (339.089 hectares).
A acrescentar a esta situação de seca extrema tivemos este ano dias particularmente gravosos em termos de condições atmosféricas de risco extremo para os incêndios florestais, como foi o caso dos dias 17 de junho, incêndio em Pedrógão Grande, e 15 de outubro, com um número excecionalmente elevado de ocorrências de incêndios.Durante o verão em Portugal ocorrem todos os anos incêndios florestais devido ao tempo quente e seco principalmente durante os meses de junho, julho e agosto. No entanto este ano foi um ano excecionalmente gravoso e de maior severidade meteorológica para os incêndios florestais devido à ausência de chuva que se fez sentir na maior parte do ano causando uma situação de seca extrema na maior parte do território.
Condições Meteorológicas do dia 17 de junho
No dia 17 de junho, incêndio de Pedrógão Grande, Portugal encontrava-se sob a influência de uma massa de ar instável, muito quente e muito seco, tendo-se registado temperaturas a ultrapassar os 40ºC em muitos locais, descargas eléctricas, trovoadas sem precipitação, pelo menos na região de Pedrógão Grande e rajadas de vento muito forte.
Segundo o Relatório do IPMA, estima-se que ocorreram downbursts em alguns locais, ou seja, fenómenos em que correntes descendentes extremamente fortes e organizadas, ao atingir o solo, criam um escoamento horizontal divergente. A estes escoamentos horizontais podem estar associados ventos também extremamente fortes.
Atendendo às suspeitas de que o incêndio de Pedrógão Grande possa ter sido iniciado devido a uma descarga eléctrica, o mesmo Relatório apresenta um estudo realizado com base em dados de radar. Os resultados do estudo apontam que a primeira descarga nuvem-solo associada à célula convectiva mais próxima do local de início do incêndio, teria ocorrido pelas 13:53 UTC, ou seja, 10 minutos depois do instante de referência do início do incêndio.
Condições Meteorológicas do dia 15 de outubro
A acrescentar ao facto do mês de outubro ter continuado com a situação de seca extrema em Portugal houve uma situação meteorológica excecional que agravou o risco de incêndios florestais no dia 15 de outubro. Esta situação foi a aproximação da Península Ibérica do ciclone tropical Ophelia, que atravessou o Atlântico e passou a Noroeste da Península já como tempestade tropical.
A massa de ar tropical, vinda de sul, quente e muito seco com temperaturas acima dos 30ºC e humidade relativa inferior a 30%, transportada na circulação desta tempestade, veio agravar ainda mais o risco de incêndios em Portugal Continental e Galiza e isto reflectiu-se no número exageradamente alto de ocorrências de fogos.
Mapas do Risco de Incêndio
A severidade das condições meteorológicas descritas e o estado de secura da vegetação reflecte-se no cálculo do Risco de Incêndio. Verifica-se assim que nos dois dias maior parte do território apresentava-se com risco de incêndio elevado a máximo (ver mapas).