20 anos depois dos incêndios de 2003: o que mudou?
Passaram duas décadas da grande vaga de incêndios que afetou o território nacional. Como aconteceu, o que mudou e o que se perspetiva para o futuro? Fique a saber mais sobre este assunto, connosco.
Nesta altura do ano (final de julho, início de agosto) evoca-se a memória dos grandes incêndios florestais que afetaram o território de Portugal Continental, em 2003. Há precisamente 20 anos, o país era fustigado por uma vaga de calor sem precedentes, que acabou por ser o fator essencial para a ocorrência de tamanha catástrofe.
No período compreendido entre 27 de julho e 15 de agosto, as múltiplas ocorrências provocaram a evacuação de centenas de pessoas de suas casas, para além de cerca de 85 desalojados, 18 vítimas mortais e mais de 300 mil hectares de floresta ardida.
Dos 18 distritos do país, 15 foram afetados por ocorrências no período acima identificado. As regiões do centro e do Sul do país foram as mais afetadas. Os distritos mais afetados foram os de Leiria, Santarém, Castelo Branco, Portalegre e Faro. No total, foram afetados mais de 420 mil hectares de floresta e mato.
Como mais tarde se veio a verificar, aliado às temperaturas elevadas que se fizeram sentir e à baixa humidade atmosférica e no solo, a maioria dos incêndios foram causados por negligência ou por mão criminosa, tendo a Polícia Judiciária detido mais de 60 presumíveis incendiários.
O incêndio que começou em Nisa, no dia 30 de julho de 2003, foi um dos maiores da vaga de incêndios que varreu o país, tendo a particularidade de se ter alastrado aos concelhos de Gavião, Mação (já no distrito de Santarém), Vila Velha de Rodão e a Proença-a-Nova (já no distrito de Castelo Branco) e de ter queimado uma área superior a 41 mil hectares. Para que se tenha uma noção, é uma área quase igual à do principado de Andorra…
O precedente de 2003 e os anos seguintes
O ano de 2003 continua a figurar nas estatísticas como um dos piores anos de sempre do ponto de vista de área ardida. Só o Pinhal de Leiria, nesse ano, perdeu mais de ¼ da sua área. Curiosamente nos últimos anos, o número de ocorrências diminuiu, mas a média de área ardida mais do que duplicou.
Os últimos 20 anos têm sido tudo menos animadores do ponto de vista dos incêndios florestais e dos seus impactos nas comunidades. Seja por um ato criminoso, por negligência ou por causas naturais (trovoada, por exemplo) os incêndios têm representado um perigo cada vez mais real, sendo que a sucessão de eventos não fez com que as nossas autoridades retirassem ilações significativas. Os anos de 2005, 2013 e principalmente 2017 foram memoráveis, pelas piores razões.
As perspetivas para o futuro podem ser lidas de duas formas bem distintas. Por um lado, sabe-se que o fator “alterações climáticas” pode vir a desempenhar um papel intensificador na questão dos incêndios. Episódios de seca mais prolongados, principalmente no Sul do nosso país podem fragilizar ainda mais certas áreas que já sofrem com a escassez de recursos hídricos.
Por outro lado, há a salientar a capacidade de resposta das autoridades que melhorou substancialmente em relação a 2003 e principalmente a 2017. A distribuição e organização dos meios humanos, terrestres e aéreos sempre foi objeto de discussão, tanto na comunicação como nas esferas políticas.
O nosso país sempre foi visto com uma espécie de amadorismo que se tornava em impotência para responder a situações de maiores dimensões. Atualmente, a estrutura de comando parece ser mais organizada e responde de forma mais eficaz quando solicitada.
O fator humano é igualmente relevante: devemos continuar a sensibilizar para que o risco seja cada vez menor e situações como 2003 não se voltem a repetir no nosso país.