Novo estudo revela o impacto ambiental dos adoçantes artificiais

Um novo estudo demonstra como a sucralose afeta o comportamento das cianobactérias - uma bactéria fotossintética aquática - e das diatomáceas, algas microscópicas que representam mais de 30% da produção primária de alimentos na cadeia alimentar marinha.

stevia; adoçante
Apesar de serem bastante utilizados, o corpo humano não consegue decompor os adoçantes artificiais. (Imagem criada por IA))

A incapacidade do corpo humano para decompor a sucralose, um edulcorante artificial presente em muitos produtos alimentares e bebidas sem calorias, está bem estabelecida pela investigação científica. O composto é tão estável que escapa ao tratamento de águas residuais e encontra-se na água potável e em ambientes aquáticos.

"Não conseguimos decompor a sucralose, e muitos microrganismos também não conseguem decompô-la, porque é uma molécula muito dura que não se degrada facilmente. Por isso, há muitas questões sobre a forma como está a afetar o ambiente e se é algo que pode ter impacto nas nossas comunidades microbianas", disse Tracey Schafer, investigadora assistente do Whitney Laboratory for Marine Bioscience da Universidade da Florida (UF) e do departamento de ciências do solo, da água e do ecossistema, parte do Instituto de Ciências Alimentares e Agrícolas da UF.

Schafer é coautora de um estudo que demonstra de que forma a sucralose afeta o comportamento das cianobactérias - uma bactéria fotossintética aquática - e das diatomáceas, algas microscópicas que representam mais de 30% da produção primária de alimentos na cadeia alimentar marinha.

A sucralose e o seu impacto no ambiente

Os investigadores recolheram solo e água de um local de água doce e de um local de água salobra em Marineland, na Flórida. No laboratório de St. Augustine, expuseram as amostras a diferentes concentrações de sucralose e mediram a fotossíntese e a respiração microbiana em dois estudos temporais separados: a cada quatro a seis horas durante um único dia e a cada 24 horas ao longo de cinco dias.

Em comparação com um grupo de controlo, a concentração de cianobactérias de água doce aumentou quando as amostras foram expostas à sucralose, mas a concentração de cianobactérias salobras aumentou e depois diminuiu quando foi doseada.

"Existe a possibilidade de as comunidades de água doce estarem a confundir a sucralose com um nutriente, com um açúcar que podem utilizar como alimento", afirmou Amelia Westmoreland, autora principal do estudo e investigadora científica que trabalhou neste projeto enquanto concluía a sua licenciatura em Química.

Tanto as diatomáceas de água doce como as salobras expostas à sucralose apresentaram uma tendência geral para a diminuição da população em comparação com um grupo de controlo. A diferença entre as amostras doseadas e o grupo de controlo foi, no entanto, mais profunda nas experiências em água doce.

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Os resultados não foram muito esclarecedores

A capacidade da sucralose para aumentar e diminuir as populações da comunidade microbiana pode potencialmente ameaçar um ecossistema naturalmente equilibrado, disse Westmoreland.

"Exemplos extremos de como isso pode acontecer são o desaparecimento da comunidade de diatomáceas e o outro extremo é que essa comunidade pode dominar completamente todo o resto", afirmou.

Tanto Schafer como Westmoreland afirmam que é necessária mais investigação para compreender plenamente a sucralose e o seu impacto nos ambientes aquáticos. Schafer frisa ainda que este estudo foi um bom primeiro passo para começar a analisar o impacto da sucralose nas comunidades aquáticas e que espera que venha impulsionar mais investigação acerca deste tema.

Referência da notícia:
Westmoreland A., Schafer T., Breland K., et al. Sucralose (C12H19Cl3O8) impact on microbial activity in estuarine and freshwater marsh soils. Springer Link (2024).